sábado, 30 de julho de 2011

O quartel – acampamento da C. Caç. 2378 no Alto Chicapa - Leste de Angola


 De um lado da picada, havia uma casa com os quartos dos oficiais e furriéis, atrás havia um acanhado posto de transmissões e de cripto, um forno de padeiro ao lado um refeitório construído com paus apanhados na mata e telhado de capim.


Do outro lado da picada, estendiam-se as tendas cónicas do tempo da segunda guerra mundial para abrigar os cabos e soldados. A luz á noite era uma lamparina artesanal, composta de uma garrafa de cerveja CUCA vazia um trapo e combustível, petromax era só para os oficiais, transmissões, cozinha e o padeiro. Tomar banho era no rio ou num chuveiro improvisado com um bidão de 200lt.
Mas havia um campo de futebol para se passar o tempo livre.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O destacamento do Luma Cassai


Passados uns dois meses por necessidades estratégicas militares, o quarto pelotão da c. caç. 2378, foi destacado para o Luma Cassai, foi render uma secção pertencente ao batalhão instalado em Henrique Carvalho (hoje Saurimo), que terminava a sua comissão.
O Luma Cassai dista do Alto Chicapa 115 km, 65km do Luena e 60 km do Dala. Quando chegamos,
deparámo-nos com uma sanzala, onde estava localizada a missão protestante, um pouco mais à frente, uma rua principal e única com habitações mais modernas e um posto da administração civil, um administrador florestal e quatro comerciantes. O nosso aquartelamento já dispunha de uma casa para o comando e outra para os restantes militares.
E assim ficou o pessoal da C. Caç. 2378 entregue ao seu destino, no  ALTO CHICAPA e LUMA CASSAI , durante vinte e três meses de 1968 a 1970 sempre em duras intervenções militares e civis.

A todos os ex-camaradas e/ou familiares ligados à C.CAÇ. 2378 (Os Ases do lá vai Aço) que cumpriu missão no ALTO CHICAPA e LUMA CASSAI – LESTE DE ANGOLA.
Vamos todos contribuir com notícias e estórias do presente e do passado. Este blogue abriu uma porta para o reforço da visibilidade e memória da C. Caç. 2378.
Amandio Ferreira 

terça-feira, 26 de julho de 2011

A viagem até ao Alto Chicapa, Leste de Angola



A Companhia de Caçadores 2378 começou pela manhã a preparar todo o material e o equipamento para iniciarmos a última caminhada até ao destino final, o Alto Chicapa, incluído na extensa coluna havia viaturas pesadas civis e militares com todo o material necessário para montar uma unidade militar. Almoçamos na unidade no Luso e iniciamos à tarde a viagem rocambolesca na distância de 180 km. Com uma paisagem muito diferente da que temos em Portugal, mato natural e virgem; viajamos em estrada de picada, com caminhos e pontes em péssimo estado.
Quando a coluna da C. Caç. 2378 chegou á sanzala Menuca, somos informados de um ataque a um camionista e ao ajudante de uma serração ali próxima, os dois homens estavam prostrados mortos, fizemos levantamento da situação e pernoitamos perto da sanzala com todas as defesas bem organizadas não fosse dar-se o caso de termos alguma surpresa durante o sono. Ao romper do sol, ainda mal refeitos do dia anterior lá continuamos, passamos no Luma Cassai, onde existia uma bela missão protestante.


Fomos continuando por picadas sinuosas e desgastadas pelas chuvas intensas africanas, por vezes reparávamos ou reforçávamos as pontes para os camiões pesados passarem, atravessávamos rios, muitos rios, íamos resolvendo as situações com os guinchos de algumas viaturas.

       As pontes                            

Passamos por algumas sanzalas, (aldeias) onde a população local nos recebia com júbilo e ao mesmo tempo talvez receio, devido ao grande aparato militar, que praticamente estava ausente naquelas paragens.
Por fim, a vasta coluna militar da C. Caç. 2378 avistou o Alto Chicapa, estávamos a 13.414 Km de Lisboa, subimos o monte e encontrámo-nos num pequeno planalto, é o Alto Chicapa pequeno lugar perdido no meio do mato com uma picada principal, três casas de construção a tijolo e telha, e mais ao lado há uma Sanzala onde vive o povo Quioco. Foi efetuada a adaptação ao local e a montagem das instalações militares de campanha muito rudimentares. Estava assim concretizada esta primeira grande viagem da Companhia de Caçadores 2378 até ao ALTO CHICAPA.
Amandio Ferreira


domingo, 24 de julho de 2011

A viagem de Luanda até ao Luso - Leste de Angola


Passados dois meses, saiu a ordem de serviço para prepararmos equipamento e estarmos prontos a realizar a viagem mais longa no terreno. A C. Caç. 2378 vai ser colocada no Alto Chicapa, aldeia na Lunda( hoje Lunda Sul), zona militar Leste. O Alto Chicapa fica situado no planalto central de Angola, onde nasce a maiorias dos rios, tornando esta zona, nas maiores bacias hidrográficas de Angola, e por estes motivos, todo este espaço, passaria a ter um papel estratégico importante na guerra de Angola.
Nos primeiros dias de Junho de 1968, logo ao amanhecer, a Companhia de Caçadores 2378 está pronta para sair do Grafanil, com armas e viaturas novas, e o equipamento necessário para montar instalações virgens, pois éramos os primeiros militares a instalarmos-nos na zona do Alto Chicapa.
As viaturas seguiam em marcha lenta, apesar de estrada ser boa (asfaltada), passámos a barragem do Cuanza e almoçámos a 20 km, junto a uma churrasqueira de frango. Continuámos viagem com destino a Nova Lisboa (hoje Huambo) em andamento normal, com armas sempre em riste (não fosse o diabo tece-las).


Chegámos a Nova Lisboa (Huambo) já era noite, e pernoitamos numa unidade militar desta cidade. Nova Lisboa era uma cidade grande, bonita e próspera.


No dia seguinte, continuámos viagem, mas agora de comboio, com destino ao Luso (hoje Luena), este comboio, antigamente, fazia a ligação férrea desde o Oceano Atlântico ao Índico, mais propriamente em território Angolano, do Lobito a Vila Teixeira de Sousa (hoje Luau ). Com armas e bagagens sem sobressaltos, seguíamos a caminho da capital do Leste de Angola,  a cidade do Luso, onde chegamos noite dentro e pernoitamos numa unidade militar.
Amandio Ferreira              

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Resumo da formação e viagem da C. Caç. 2378 até ao seu destino. Alto Chicapa e Luma Cassai no Leste de Angola.


O corpo e estrutura da Companhia de Caçadores 2378, iniciou a sua formação na unidade do Regimento de Infantaria 1, na Amadora, (periferia de Lisboa) hoje uma grande cidade, que no tempo, viu chegar e partir milhares de jovens desta sua grande e bonita unidade militar rumo as ex-colónias.
A C. Caç.2378 comandada pelo capitão Figueiredo, foi ganhando forma com elementos em instrução e outros vindos de outras unidades, a sua estrutura ficou completa, em finais de fevereiro de 1968.


 É recebida a ordem de mobilização da Companhia de Caçadores 2378, com destino a Angola, o que já se previa, só não se sabia qual era o teatro de guerra.
A C. Caç. 2378 é colocada numa ex-unidade antiaérea fixa em Murfacém-Trafaria, para tirar o IAO e esperar o dia do embarque, marcado para o dia 28 de Março de 1968. No exercício de instrução de operação militar batemos toda a Costa da Caparica e acampamos junto à Fonte da Telha. Posteriormente, foram efetuadas as últimas inspeções físicas e de saúde.
No dia 28 de Março de 1968, pela manhã, deixámos Murfacém a caminho do cais da Rocha do
Conde de Óbidos, aí chegados a Companhia de Caçadores 2378 efetuou um pequeno desfile, ao som da muito ruidosa banda do exército, ruído que abafava o clamor dos familiares.


 Com a nossa Companhia Independente a C. Caç. 2378 viajavam mais duas Companhias e dois Batalhões. Pelas onze horas, o majestoso e cansado navio Vera Cruz partiu do cais da Rocha do Conde de Óbidos, iniciando assim mais uma viagem ingrata a terras do ultramar, o espetáculo era aterrador; a banda tentava tocar mais alto do que os gritos dos familiares, muitos camaradas mais emocionados não conseguiam segurar as lágrimas, mas o barco roncando os seus motores aliviava o ambiente.
Já em alto mar, as tropas mantinham a forma física fazendo exercícios de manutenção, ao aproximarmos do Equador a ondulação era forte, o calor imenso e a cerveja esgotava-se, com o subir e descer do navio, tal a ondulação era forte.



No dia 6 de abril de 1968, entramos nas águas de Angola e atracámos no cais de Luanda, meio atónitos e curiosos. Muitos camaradas e conterrâneos nos esperavam para rever os amigos, outros, os militares vinham espreitar com alegria o transporte, que uns dias mais tarde os haveria de levar a bom porto, até ao PUTO.
 Desembarcámos e fomos transferidos para o comboio que nos esperava. Iniciámos uma viagem curta até à saída de Luanda, onde estava implantado o maior centro estacionário de tropas, esperando colocação nas várias cenas da guerra em Angola, o famoso Campo Militar do Grafanil.
 Chegados ao Grafanil a Companhia de Caçadores 2378 concentrou-se na parada e ai efetuamos um desfile de boas vindas (com todo o Estado Maior presente), fustigados por uma temperatura de mais de quarenta graus ao sol, muitos militares tombaram desmaiados.
 A C. Caç. 2378 ali ficou aquartelada, tendo-lhe sido atribuído como missão provisória o controle e intervenção das linhas de defesa da cidade de Luanda. Ficámos com a ideia que esta seria a nossa tarefa até ao fim da comissão, mas depressa caiu o pano.
Amandio Ferreira